A educadora lançou no final de 2019 seu 15º livro: Educação no Brasil – um panorama no ensino na atualidade (Editora Atlas)

A educadora Andrea Ramal lançou no final de 2019 seu 15º livro: Educação no Brasil – um panorama no ensino na atualidade (Editora Atlas), que reúne textos escritos por ela e publicados entre 2014 e 2019 em diversos veículos de comunicação brasileiros, em um estudo crítico sobre a educação no país nos últimos anos.

Ao longo de 200 páginas, a doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro analisa os rumos educacionais e propõe caminhos, tanto na esfera pública quanto na privada. Também trata das questões que envolvem professores e pais.

Para debater mais esse tema, a Revista Tutores conversou com Andrea. Ela, que foi professora por mais de 25 anos e implantou programas de formação docente no Brasil, na Colômbia e em outros países da América Latina, atualmente apoia o GEN | Grupo Editorial Nacional na produção de conteúdo multimídia para o Ensino Superior e é consultora na implementação de inovação educacional. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

O que te levou a escrever o livro Educação no Brasil – um panorama do ensino da atualidade?

Escrevi o livro como uma espécie de guia para entender como funciona o sistema educacional no país. Reuni artigos que publiquei entre 2014 e 2019, em diversos veículos de comunicação, com temas políticos, sociais, afetivos e, principalmente, as novas tendências que vão ao encontro da mentalidade dos jovens. Pensei em uma publicação dirigida tanto a pais como a professores, e todos aqueles que acreditam que podemos ter uma sociedade melhor por meio de um processo educacional antenado com a realidade de hoje.

Quais as principais constatações a que chegou?

Por um lado, se analisarmos os indicadores educacionais, temos a impressão de que os anos passam e as mudanças demoram a chegar. Por outro lado, o contraponto é o advento de tendências no ensino, pois novos métodos de aprendizagem podem ajudar a revolucionar a sala de aula.

E quais são essas tendências?

A tendência é a implementação das metodologias ativas, que são realidade em instituições de ponta dos Estados Unidos, Ásia e Europa. Nelas, os estudantes assumem um papel mais efetivo na gestão da própria aprendizagem. Fazem tarefas antes de cada lição e encontram-se com o professor para receber orientação em atividades mais sofisticadas, como estudos de casos e dinâmicas que requerem o domínio de conhecimentos prévios. O processo é personalizado, interativo e motivador. Em geral, resulta em um melhor desempenho acadêmico.

Mas será que essas metodologias ativas de ensino funcionam no Brasil?

No Brasil, as metodologias ativas estão chegando aos poucos, não só nas escolas, como também em instituições de Ensino Superior reconhecidas pela excelência. Claro que a maioria das escolas brasileiras ainda não está apta para implantar esse conceito em suas salas de aula. Falta formação do professor: ele precisa saber dar aula sem ficar apresentando conteúdo. Mudar esse método, trazendo a parte mais complexa para a aula, como desafios, estudos de caso, debates e trabalhos em grupo é mais difícil, exige uma preparação maior do docente e mais segurança sobre o que ensina. Além disso, na educação básica, depende de um envolvimento da família, sobretudo para reforçar a atitude comprometida com o aprendizado e em uma cultura de estudo autônomo.

Como funciona hoje o sistema educacional no País?

Quando comparamos a escola e a universidade de hoje com outras áreas, vemos que em muitos aspectos ainda estamos no século passado. Atualmente, o sistema educacional tem uma organização nos documentos e legislações que, na prática, é prejudicada por problemas de gestão. Na educação pública, onde temos a maior parte dos estudantes do ensino básico, há que valorizar e capacitar os docentes, garantir infraestrutura e recursos compatíveis com o aluno do mundo contemporâneo, renovar as formas de ensinar e aprender. Há que reforçar também a importância da contribuição das famílias. Sem que a família faça a sua parte, as melhores políticas públicas fracassam. O desempenho dos estudantes brasileiros, na lanterna dos exames internacionais, mostra que ficamos para trás. Colocar a educação como alta prioridade é uma decisão que não deveria mais ser adiada.

O que mudou nos últimos anos na educação brasileira?

Olhando exclusivamente para os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a educação brasileira parece estagnada. Há milhares de crianças sem creche e pré-escola, o analfabetismo funcional continua a crescer, o Ensino Médio segue perdendo jovens e a educação superior pública está cada vez mais debilitada. Sem falar do contexto em que a educação acontece: por exemplo, em algumas escolas de grandes centros urbanos, é comum que as aulas sejam interrompidas por causa da violência do entorno. Em muitas, não há professores para todas as matérias. No entanto, há avanços: conseguimos universalizar o acesso ao ensino básico. Há professores que, apesar dos problemas, fazem trabalhos maravilhosos, mesmo nas mais remotas salas de aula, com pouquíssimos recursos. Temos também mais estudantes nas universidades, jovens que, décadas atrás, não teriam acesso a um diploma de Ensino Superior. No entanto, ainda há muito a fazer.

E o que é preciso para que isso aconteça?

O Ministério da Educação precisa ser tratado como estratégico e a pasta precisa de gestores de excelência, com a continuidade nas ações. Vale lembrar que a sociedade também tem papel decisivo. O Poder Público só prioriza a educação quando ela passa a ser uma demanda da sociedade e esta se envolve seriamente na fiscalização da qualidade e no controle da aplicação dos recursos. Formação e valorização dos professores, ações sociais para prevenir as situações de evasão e abandono e um trabalho que envolva as famílias são fatores importantes para mudar o ensino básico.

Como você definiria uma educação justa e eficaz?

É aquela que oferece uma formação integral de qualidade para todos, sem excluir ninguém; um ensino voltado não só para conteúdo, mas para valores, comportamentos e atitudes.

O quanto essa educação é fundamental para a construção de um país?

Ela é fundamental para a formação do país tanto na área social, já que uma educação de qualidade consegue minimizar diferenças e as desigualdades, quanto no âmbito da cidadania, uma vez que uma sociedade bem-educada é mais capaz de eleger seus representantes, como também de cobrar resultados e melhorias. É fundamental ainda na área econômica, porque jovens bem preparados ingressam naturalmente no setor produtivo e isso torna o país mais competitivo.

Por áreas, quais os desafios da realidade brasileira na educação, indo do Ensino Fundamental até o Superior?

Nas políticas educacionais voltadas para o Ensino Fundamental, o esforço visará à implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Isso dependerá das redes estaduais e municipais, como também do engajamento das escolas para adaptar a BNCC à realidade local. Um dos pontos mais críticos é a meta de alfabetizar as crianças em dois anos, o que requer uma revisão da didática, professores qualificados, o envolvimento das famílias e ações sociais de suporte. Para o Ensino Médio, o maior gargalo da educação brasileira, quase nada foi feito na última década. O resultado aparece nas taxas alarmantes de abandono escolar. É o retrato de um sistema que perde os jovens: um dia eles chegaram a estar na sala de aula, mas não voltam mais. Há muito caminho pela frente, ainda mais considerando a infeliz tradição de descontinuar políticas educacionais a cada mudança de governo.

E no Ensino Superior?

No Ensino Superior, também não se pode falar de uma política definida. A situação das universidades públicas está à beira do colapso. Não há recursos para o funcionamento diário, as bolsas de pós-graduação estão ameaçadas, o investimento em laboratórios, pesquisa e inovação cessaram e, em algumas instituições, os docentes estão sem receber salário. Deveria ganhar importância na pauta deste ano a retomada das visitas do MEC/INEP às instituições de Ensino Superior e um sistema de avaliações mais severas, tanto das instituições como dos graduandos.

Como fica o papel do professor nesse contexto?

Como comento no livro, o professor brasileiro se sente muito esquecido pelas políticas públicas do País. Frequentemente, muda-se o Ministro da Educação e o Secretário de Educação, seja estadual ou municipal. Toda hora começa um novo projeto para a área e raras vezes se pensa na pessoa central, que é o professor. A consequência disso é a grande evasão no mundo dos professores e a alta taxa de desistência da profissão. Para muitas pessoas, a docência virou uma carreira de passagem. O Brasil não pode tratar assim os seus professores.

O que fazer para melhorar essa realidade?

É necessário que haja um conjunto de medidas para a formação e a valorização da profissão docente, a inclusão de mais recursos e melhor estrutura nas escolas, a mudança da didática. Não existe uma medida só, há um conjunto de fatores que vão gerar um resultado prático. É preciso começar o quanto antes.

Quanto aos pais, como eles devem se comportar diante dessas questões?

Todos os pais deveriam se envolver na batalha da qualidade do ensino público, mesmo quando seus filhos estiverem matriculados em uma escola privada. É um direito de todo cidadão e o Brasil só poderá garantir um desenvolvimento sustentável se todos os estudantes receberem uma boa educação.

E os alunos?

Os alunos precisam ser mais protagonistas e aprender de forma mais autônoma. Disciplina, maturidade, autonomia, interatividade, planejamento, pro atividade e comprometimento são algumas características extremamente importantes para o melhor aproveitamento do aprendizado e constituem também competências valorizadas no atual mercado de trabalho.

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