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Neste artigo, a educadora Andrea Ramal debate sobre os principais desafios que se apresentam para toda a comunidade escolar (pais, alunos e professores) no retorno às aulas presenciais. Assinalamos também sobre os perigos de um aumento da desigualdade educacional entre os estudantes das redes particulares e públicas de ensino.
O retorno às aulas presenciais na rede particular, autorizado pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella, foi criticado por especialistas, pais de alunos e até algumas escolas. A partir de 3 de agosto, poderão ser retomadas, de forma voluntária, turmas de 4º, 5º, 8º e 9º anos do ensino fundamental. Depois de 15 dias, a situação será reavaliada para a possível reabertura de outras séries. Ainda assim, parte das instituições decidiu manter as aulas virtuais. Apesar de autorizar o funcionamento parcial na rede privada, a prefeitura não apresentou cronograma para a rede pública, o que, segundo especialistas, pode agravar a desigualdade entre os ensinos público e privado. O protocolo de reabertura, com regras para evitar a contaminação por coronavírus, deverá ser adotada tanto pelas escolas particulares quanto pelas públicas, quando reabrirem.
Retorno criticado
Superintendente da Vigilância Sanitária, Márcia Rolim explicou a escolha das turmas que encerram os ciclos do ensino fundamental:
— Escolhemos turmas com alunos em idades em que é possível explicar e aplicar as regras. Com as crianças pequenas, temos mais dificuldades para o distanciamento social entre colegas.
Cada escola poderá definir a data de retorno. Ontem, no entanto, poucas haviam anunciado prazo de retomada. O Centro Educacional Anísio Teixeira, em Santa Teresa, declarou que não concorda com a volta ao ensino presencial em agosto. No Colégio Santo Inácio, em Botafogo, tampouco há data certa. Mãe de um aluno do 2º ano do ensino médio na escola, Renata Prates teme o contato dos estudantes.
— Sou contra esse retorno, inclusive tenho gente do grupo de risco em casa. Como os jovens se encontrariam depois de tanto tempo separados? — questiona.
Apesar das dificuldades de acompanhar as aulas pela plataforma digital da prefeitura, o fato de a rede pública não ter data para volta foi um alívio para Juan Leandro, de 14 anos, aluno do 9º ano da Escola Municipal Georg Pfisterer, no Leblon:
— Acho que a gente devia continuar isolado para todo mundo ficar bem. Se formos à escola, os professores não vão conseguir segurar os alunos na sala de aula com máscaras — diz o aluno.
Professor de Português na mesma escola, Diogo de Andrade, que é pai de dois alunos naquelas unidades, concorda:
— Não temos segurança em relação ao momento dessa reabertura. Temos 1.200 alunos para dois inspetores por turno. No recreio, os alunos ficariam de que jeito? — questiona.
Mais desigualdade
A diferença de tratamento entre as redes pública e privada acendeu o sinal de alerta em especialistas ouvidos pelo EXTRA e o descompasso entre os cronogramas de retomada das aulas presenciais é visto como um agravante da desigualdade entre os ensinos.
Doutora em Educação pela PUC-Rio, Andrea Ramal chama atenção para o fato de que, durante a pandemia, as escolas particulares puderam atender melhor aos alunos do que a rede pública.
— A volta às aulas nas escolas particulares, em muitos casos, será uma continuidade do trabalho que foi feito à distância durante a fase de isolamento. Enquanto isso, na escola pública, houve sérias dificuldades para acesso online e, além disso, as escolas carecem de estrutura para o retorno — diz.
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