Fonte: Diário do Grande ABC | Autora: Juliana Stern

A EJA (Educação de Jovens e Adultos), voltada às pessoas a partir dos 15 anos que buscam recomeçar os estudos, vem perdendo alunos na região. Nos últimos cinco anos, o Grande ABC registrou queda de 8,74% nas matrículas. O número de alunos caiu de 28.459 para 25.971 no período. Para especialistas, o programa ainda não oferece estímulos suficientes para que o jovem e o adulto voltem aos estudos. Além disso, os métodos de ensino nem sempre se adaptam às necessidades de aprendizagem dos matriculados.

Para a consultora em Educação e doutora pela PUC- Rio Andrea Ramal, as maiores dificuldades do programa em atrair e manter os alunos estão na insuficiência de incentivos para que o jovem e o adulto que interromperam os estudos voltem às salas de aula. De acordo com a especialista, os problemas começam com as instalações. “As escolas não são adequadas aos adultos. As salas de EJA funcionam onde crianças estudam, com mobília voltada para as crianças.”O método de ensino também apresenta falhas, segundo Andrea, visto que nem todos os professores do programa são formados em andragogia – ciência de orientar adultos a aprender –, ou seja, não conhecem a fundo como transmitir conhecimento ao público-alvo. “O adulto aprende de forma diferente. Ele precisa de algo que tenha ligação direta com a vida, com a realidade. Os professores, que muitas vezes também dão aulas na Educação regular, ensinam como se fosse para crianças ou adolescentes. Seria necessário uma revisão no currículo.”

Josefa Gomes, 51 anos, pensionista e moradora do Jardim Irajá, em São Bernardo, voltou a estudar com 46 anos. Ela se formou em 2013 e até chegou a entrar na faculdade. A pernambucana veio para São Paulo com 13 anos, mas os estudos foram interrompidos antes disso, por influência dos pais. “Na minha família as mulheres só estudavam até a 4ª série (Ensino Fundamental), e depois aprendiam a bordar e a cuidar da casa.”

Uma vez em São Paulo, Josefa começou a trabalhar e usou seu salário para terminar o Ensino Fundamental em escola particular. Precisou interromper mais uma vez os estudos quando ficou grávida. “Engravidei, tive que casar, e o pai da minha filha não deixava eu ir para escola nem trabalhar.”

Depois de 15 anos de casamento e quatro filhas, Josefa voltou a pensar na sua formação. Fez cursos de História da Arte, animação, encadernação e, finalmente, voltou ao Ensino Médio. “Cuidava da casa e das filhas de manhã, fazia curso de cabeleireira à tarde, ia para a escola à noite. Ainda estudava e fazia os trabalhos da escola quando chegava em casa”, se vangloria. Depois de formada, ela prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e diversos vestibulares, sendo aceita em faculdades como Anhembi Morumbi e FMU, mas não continuou pela dificuldade de locomoção até o campus, na Capital. No entanto, ela ainda não desistiu do Ensino Superior e pretende começar graduação de Direito em São Caetano, no próximo ano.

Especialista cobra políticas públicas de incentivo ao retorno escolar

Para a consultora em Educação Andrea Ramal, as administrações públicas falham em divulgar a EJA (Educação de Jovens e Adultos). Para ela, são necessárias políticas voltadas para incentivar a procura pelo programa. “Nunca vemos uma propaganda do governo incentivando, algo que mostre que o aluno adulto não está sozinho e que a educação dele também é importante. Às vezes, a informação nem chega em quem precisa”, afirma.

No Grande ABC, a divulgação das vagas é feita principalmente por meio de faixas, panfletagem e cartazes próximos às escolas. Em São Bernardo, por exemplo, além dos panfletos e cartazes, as vagas são divulgadas semestralmente apenas por chamamento público no portal Notícias do Município. Já em Santo André são realizados mutirões formados por professores e profissionais da unidades que percorrem as ruas do bairro para abordagens aos munícipes, fazendo divulgação ‘boca a boca’, mas não disponibilizam a informação digitalmente.

Para Andrea, é necessário estudar novas maneiras de chegar na população que está apta à EJA, além de assegurar apoio para o estudante. “Muitos têm baixa autoestima, acham que estão muito velhos para voltar, acham que não têm capacidade. É preciso mostrar que eles não estão sozinhos, não estão abandonados e que eles também são importantes.”