O mundo e o Brasil têm avanços na educação inclusiva, mas estão longe do ideal. Na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, missão ambiciosa adotada por 184 estados-membros da Unesco, a meta é assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. A educação transforma a vida e é o principal impulsionador para o desenvolvimento da sociedade.
A educadora e escritora Andrea Ramal, doutora em educação pela PUC-Rio, professora de português, literatura e redação ao longo de 20 anos, frisa: “Acredito na teoria de que é melhor uma sala diversificada, tanto para as crianças das aulas regulares quanto para quem precisa de atenção. As duas vão se desenvolver mais, com a ressalva de que, da maneira como funciona hoje, não ocorre uma real inclusão, aliás, é uma inclusão excludente”.
Realidade brasileira
Para Andrea Ramal, a sala de aula dialógica, inclusiva e plural é espaço de construção de novas identidades, capazes de se engajar na construção de uma sociedade justa, democrática, solidária e sustentável. Mas, no Brasil, está longe de ser uma realidade. “O professor não dá atenção, não tem capacitação e as famílias rejeitam. A sociedade não está preparada. Pior, muitos pais abandonam a escola diante de experiência negativa. Conheço muitos que colocaram o filho na escola e o tiraram. O problema é que dizem que o‘filho não se adaptou’, quando, na verdade, é a escola que não se adequou”. Crítica, ela enfatiza que a questão é que o projeto pedagógico, na prática, não ocorre. “Vejo pais decepcionados, que não acreditam mais na escola inclusiva, porque a realidade é outra. É bem diferente do que é proposto e estabelecido em lei”.
Lei 13.146/2015
Para a especialista, apesar de a escola inclusiva ser obrigatória (Lei 13.146/2015) e ser um avanço, os resultados ainda são insignificantes. Para a transformação de fato ocorrer, Andrea Ramal indica três pilares para esse avanço.“Primeiro, a capacitação dos professores nas mais diversas demandas de deficiências. Em segundo lugar, respaldo do governo, colocando agentes educacionais especializados para apoiar o professor que tem de lidar com 30, 40 alunos em sala. O que está na lei. E, em terceiro, a escola conscientizar as famílias sobre os benefícios da inclusão para acabar como preconceito”.
Gerações perdidas
Andrea Ramal avisa que não é um caminho fácil, leva tempo. Ela reconhece que num país em que “temos escola sem biblioteca e quadra esportiva (sim, elas existem!), pode ser contraditório um passo como o da escola inclusiva. No entanto, é preciso caminhar juntos para resolver os problemas da educação no Brasil. Não dá para solucionar uma demanda de cada vez, não há tempo. Temos de pensar nesses alunos não atendidos. São gerações perdidas”.