Aos dois anos, a princesa Charlotte começou a frequentar a creche (Divulgação/Palácio Kensington)

A foto da princesa Charlotte no seu primeiro dia de aula já rodou o mundo. Todos acharam muito fofa essa criança sorridente, com vestido e sapatinhos bordô, posando cheia de charme, de echarpe no pescoço e mochila nas costas, na maior animação antes de entrar na creche que custa R$ 3,3 mil reais por mês – mais de três vezes do que é gasto com cada aluno brasileiro no ensino fundamental.

A menina sequer suspeita, com seus dois aninhos recém completados, que ao mesmo tempo que sua foto nos enternece, ela também escancara uma verdade crua, longamente construída: a das desigualdades educacionais.

É que Charlotte mal começa a conhecer a vida, mas a sala de aula será quase uma extensão de sua casa. Professores selecionados com o máximo rigor aplicarão atividades lúdicas em ambientes repletos de oportunidades que estimulem a capacidade de aprender. Bem pensado: afinal, todos sabemos da importância decisiva dessa etapa educacional para que o desenvolvimento infantil seja pleno.

Num piscar de olhos – como essas crianças crescem depressa! – estará frequentando a biblioteca da escola, onde orientadores que conhecem as obras de Shakespeare e Oscar Wilde a convidarão para tomar parte nas peças teatrais do colégio, encenadas com preciosos figurinos, aplaudidas por gente grande.

Seus pais e os pais de seus colegas zelarão para que não faltem tecnologias, recursos e materiais motivadores, para que lá possam viver experiências memoráveis. E quando um dia Charlotte pensar na faculdade, não lhe faltarão opções. Ah, como parece promissora a vida da menina da foto…!

O que poucos notarão é que, no verso da imagem da princesa de bochechas rosadas e pele suave como a neve, há outra menina: Carla. Carla tem a mesma idade que Charlotte e mora numa comunidade do Rio de Janeiro. Quis o acaso que sua mãe também se chamasse Kate, como a duquesa de Windsor.

Este mês, Carla teria seu primeiro dia de aula, tivesse conseguido vaga. Kate chegou a passar duas noites na fila de espera. Então este ano, combina de deixar a filha com a vizinha, porque trabalha cedo. Por notável coincidência, Kate é faxineira numa creche muito parecida com a encantadora escolinha de Charlotte.

O que a vida reserva a essas meninas? Quando será a vez de Carla fazer a sua foto de mochilinha no ombro e olhar maroto cheio de expectativa? Que medidas de tempo e distância separam uma e outra imagem?

Como será, enfim, o futuro de Charlotte e Carla, as filhas de duas Kates? Essa pergunta, e suas múltiplas e improváveis respostas, hão de valer o trabalho de uma vida inteira.