Autora: Andrea Ramal
No BBB 2024 aconteceu uma situação muito desagradável, que é denominada capacitismo. Um dos participantes, Vinícius Rodrigues, atleta paralímpico brasileiro que usa prótese na perna esquerda, sofreu bullying do concorrente Maycon. Este disse aos demais brothers que eles podiam colocar um apelido no cotinho, ou “batizar o cotoco”, referindo-se ao membro amputado.
Isso é capacitismo: o preconceito ou discriminação contra pessoas com deficiência. A prática do capacitismo é tratar as pessoas com deficiência como se elas fossem inferiores.
O episódio é ainda mais grave e desrespeitoso se considerarmos que Maycon trabalha numa escola, como merendeiro. Nós costumamos dizer que todos os que trabalham na escola tem uma missão educadora, porque eles lidam com alunos, crianças e adolescentes em formação.
Um porteiro, por exemplo, na atitude de receber um aluno na entrada do colégio, já transmite ou não determinados valores: de acolhida, de valorização de quem chega. O ideal é o estudante se sentir bem-vindo na escola. Isso já contribui com o processo educativo. A ideia vale para todos os funcionários, mesmo que eles não atuem em sala de aula.
As atitudes capacitistas acontecem bastante no dia a dia, mesmo que as pessoas não percebam que estão praticando. Por exemplo, quando se trata uma pessoa com deficiências de forma infantilizada, como se ela necessariamente precisasse de ajuda o tempo todo. Outro exemplo, quando se fala que certa pessoa com deficiências é uma “inspiração”, um exemplo de superação, que ela deveria servir de “exemplo para os outros”. Uma pessoa pode ser admirada, servir de motivação para os demais, por aquilo que faz ou pelo que ela é, e não por fazer tudo isso apesar da deficiência, como se sua vida fosse uma tragédia.
Assista o vídeo de Andrea Ramal sobre o tema.
Também são capacitistas as expressões inadequadas ou ofensivas que remetem a pessoas com deficiências intelectuais. Na escola, entre os adolescentes, isso acontece demais: um chamando o outro de mongol, demente, retardado. Da mesma forma, dezenas de outras expressões que eram “naturais” antigamente, mas que hoje, com o avanço do conhecimento sobre o tema, representam ofensas contra pessoas com deficiências, por exemplo: deu uma de João sem braço, querendo dizer que a pessoa fugiu das obrigações, ou que fica inventando desculpas; ou por exemplo dizer que o outro deu mancada, que faz referência a pessoas que tem uma assimetria na forma de andar, querendo associar a expressão com um erro que alguém fez ou uma besteira que cometeu. Ou seja, associando pessoas com deficiências a situações negativas.
Essa definição de capacitismo e as atitudes capacitistas precisam ser trabalhadas na escola, dentro da formação dos estudantes, para ensinar o básico: o respeito pelos outros. A escola precisa ser até bem rígida quanto a isso, e não entender isso como brincadeira, ou “coisas de adolescente”. As famílias também precisam ficar atentas e dar o exemplo.