Fonte: O GloboAutora: Júlia Amin

Com uniforme da rede municipal, Beatriz, de 5 anos, entra no carro e diz: “Na minha escola tem ioga, eu aprendi a fazer a posição da borboleta, do Homem Aranha e da flor de lótus”. A mãe, a jornalista Flávia Perez, optou por colocar seus dois filhos em escolas públicas desde que se mudou de Jacarepaguá para o Flamengo, no fim de 2016. Desde o início do ano, Bia estuda na Escola Municipal Albert Schweitzer, e Leonardo, de 12 anos, na José de Alencar, ambas em Laranjeiras — ela tem outra filha de 19 anos. A escolha de Flávia reflete uma prática que vem sendo cada vez mais adotada pela classe média. Com os altos preços das mensalidades dos colégios particulares, famílias procuram unidades da rede pública que oferecem um ensino crítico e convivência com diversidade social e cultural.

A educadora, escritora e doutora em Educação pela PUC-Rio Andrea Ramal comenta que a participação das famílias de classe média contribui para “contagiar positivamente” o ambiente escolar. Para ela, é uma forma de exigir qualidade da escola pública e mostrar que os outros pais também podem interagir e demandar mais do corpo docente. Andrea elogia, ainda, o comprometimento dos professores. Segundo ela, muitos dos que lecionam na rede pública escolhem estar lá para formar pessoas capazes de mudar de vida. Ela ressalta, entretanto, que ainda há muita disparidade no ensino, e que muitos colégios sofrem com falta de políticas públicas.

“A escola municipal tem vantagem porque lida com o ensino fundamental, e nos cinco primeiros anos o aluno só tem um professor. Já no ensino médio é mais complexo. Nem todos os professores são formados na disciplina que lecionam. É o grande gargalo da educação brasileira. O estado precisaria de uma gestão melhor para mudar esse cenário. A diferença em geral, pelo que eu conheço, se faz pelo trabalho dos professores e do diretor. Há escolas em que o diretor liga para a casa dos pais para perguntar o porquê de o aluno ter faltado. Isso faz diferença” diz a especialista.