Fonte: Correio Braziliense

 

Numa sala de aula de faculdade, é fácil perceber quando alguém está gripado: o nariz escorrendo, a tosse, a aparência desanimada são logo identificados. Até em casos de problemas mais graves, como pneumonia, os sintomas físicos são visíveis, palpáveis. Não se pode dizer o mesmo dos males das mente: os indícios existem, mas são mais fáceis de esconder ou de passar despercebidos ou serem confundidos. É aí que mora o perigo. Como os transtornos psiquiátricos são mais difíceis de identificar pela comunidade, também se torna mais complicado ajudar quem precisa. Nada disso, porém, deve ser usado como desculpa para não abordar nem prevenir a questão nas instituições de ensino superior. O importante é que as equipes das unidades atuem com sensibilidade e deixem a linha de comunicação aberta. É essa postura que precisa ser adotada por diretores, coordenadores, professores, funcionários e estudantes.

E há mais maneiras com as quais uma universidade pode contribuir para o bem-estar mental dos alunos: estimulando atividades físicas, alimentação saudável, acesso à cultura, atividades de interação social, por exemplo. De acordo com a consultora de educação Andrea Ramal, infelizmente, é mais difícil encontrar instituições de nível superior que tenham proposta à formação integral da pessoa, sem focar apenas no aspecto acadêmico e profissional. “Seria ótimo que as faculdades se preocupassem com isso e estimulassem o desenvolvimento de competências socioemocionais, mas a grande maioria não consegue fazer isso hoje em dia”, diz. Em universidades maiores, especialmente naquelas em que as turmas não têm grade fechada, o desafio de acompanhar o bem-estar de cada aluno se torna ainda maior. “Há muitas matérias separadas, feitas em várias departamentos…”, observa.

“Os professores, em muitos casos, têm uma vida profissional fora dali. Então, as universidades acabam interferindo só quando é uma coisa grave. Quando há um caso de agressão, por exemplo”, afirma. São poucas as instituições que contam com orientador ou tutor individual, alguém que dê conselho sobre qual disciplina cursar e acompanhe a evolução de cada estudante. “Algo que nas escolas e faculdades norte-americanas é muito comum”, compara. Assim quando há algo de errado, se a situação for identificada, será por um professor. “Tem docentes que são mais queridos, com os quais os alunos têm mais abertura e coragem de falar. Um diretor ou coordenador de curso dificilmente terá essa interação mais próxima”, aponta. Além dos educadores, os próprios alunos têm mais chances de prestar atenção a algo de diferente, como destaca o psicólogo Sérgio Eduardo Silva de Oliveira, especialista em avaliação psicológica, mestre e doutor em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). (…)