Fonte: O Estado de Minas Autora: Junia Oliveira
O que já foi esperança de formação superior e de um futuro melhor virou incerteza e ociosidade. O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) enfrenta uma das piores crises dos últimos anos. Depois de experimentar uma ascensão meteórica e seu apogeu, o sistema agora despenca quase na mesma proporção. O primeiro semestre letivo está quase no fim, mas o processo de contratações de empréstimos via fundo ainda não acabou. Isso porque apenas 30 mil, das 80 mil vagas oferecidas para o período, foram preenchidas, uma ociosidade de 62,5%, segundo estimativa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).Visivelmente, o novo Fies, que propagandeou contratos a juro zero, não “pegou”. Para frear a derrocada, governo alterou novamente as regras para o segundo semestre. O baixo percentual de financiamento das mensalidades é apontado como o grande gargalo do sistema.
Três perguntas para Andréa Ramal, consultora e doutora em educação pela PUC-Rio
O fator financeiro é o único ou algo mais explica o desinteresse pelo Fies?
O fator financeiro realmente pesa muito. O país ainda passa por uma grave uma crise econômica, com mais de 12 milhões de desempregados. Os índices de 10% e 15% (de financiamento) são extremamente baixos, desestimulam os candidatos. Os pais estão cada vez mais receosos em relação ao Fies, acompanhando a piora nas contas do governo federal, e temendo uma eventual perda dos benefícios ao longo do curso. Além disso, a burocracia é enorme, assim como a lista de exigências e os constantes problemas nas inscrições.
Pode-se falar numa descrença em relação ao ensino superior?
Não acredito. Os brasileiros entendem, cada vez mais, a importância de se formar e buscar, com mais chances, vagas no mercado. Além disso, pesquisas recentes atestam que os profissionais com ensino superior chegam a ganhar 10 vezes mais do que os que têm ensino médio. A descrença é relacionada às regras, dificuldades financeiras das instituições públicas e problemas de gestão das faculdades.
Como reverter essa derrocada?
Antes de falarmos em mais mudanças no Fies, o foco deve ser no investimento no ensino público, qualificação de professores, ações para a redução da violência no entorno das escolas e implementação de políticas que aumentem, de fato, a qualidade da educação brasileira. Nos últimos anos, a pauta do país vem sendo ocupada por questões econômicas, políticas e, principalmente jurídicas, deixando a educação em segundo plano.