Crédito: CNBB

Fonte: HypenessAutor: Kauê Vieira

 

O caso envolvendo um aluno de 14 anos, que esfaqueou um professor no CEU Aricanduva,  zona leste de São Paulo, escancarou a urgência de um debate amplo sobre saúde mental dentro das salas de aula.

Descrito como um aluno exemplar e com boas notas no currículo, o adolescente usou uma faca de cortar carne da tia para atingir o professor, que segue internado em estado grave. O jovem também ficou ferido e foi encaminhado ao hospital.

Hypeness conversou com Andrea Ramal, Doutora em Educação pela PUC-Rio. Ela diz que os cursos preparatórios de educadores precisam se atualizar e entrar em compasso com exigências da atualidade, como a própria saúde mental.

“É importante lembrar que não é incumbência dos colégios fazer nenhum tipo de diagnóstico ou terapia, mas eles têm, sim, uma função importante nesse sentido. Não é vocação das instituições oferecer tratamento. O papel da escola é perceber sinais e entrar em contato com a família. No entanto, um obstáculo nesse sentido é o fato de os cursos de formação de professores dificilmente abordarem a saúde mental. Os educadores são capacitados para identificar outros transtornos, como dislexia e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Esses são mais facilmente descobertos porque o resultado aparece imediatamente na capacidade de aprender. É mais complicado com distúrbios ligados ao emocional”.

Para Andrea Ramal, é preciso incentivar um envolvimento maior dos alunos. A Doutora em Educação pela PUC-Rio cita a expressão como forma de cuidar da saúde mental na sala de aula.

“Pode ser um debate ou uma redação para falar das próprias emoções. E isso tem um efeito muito positivo. No entanto, é preciso cautela. Uma discussão especificamente sobre suicídio entre adolescentes pode ser muito arriscada. Pode dar certo, desde que feita por profissionais com formação para isso. A orientação de um psicólogo ou psiquiatra seria recomendável. Um passo importante é manter uma postura de diálogo, que deve ser adotada por professores, orientadores, diretores e todos os profissionais de um colégio. Quando a pessoa é muito rígida, dificilmente o aluno sentirá abertura para conversar”, assinala.

“Os métodos conservadores não ajudam. No entanto, as unidades de ensino que adotam metodologias de ensino ativas, em que atividades de interação são valorizadas, têm mais facilidade de conhecer os estudantes e, assim, dar apoio aos que precisam. O modelo de ensino tradicional, onde o professor é apenas transmissor do conteúdo, não é ideal. Hoje em dia, ele deve muito mais ser um orientador, um dinamizador, um motivador. Se o professor não fica só explicando e explicando consegue fazer uma observação comportamental melhor. A minha dica é que educadores fiquem atentos a qualquer sinal de mudança ou nervosismo nos alunos. Além disso, precisamos fazer da escola um lugar de aprendizagem, de brincadeiras e de fazer amigos, um lugar tranquilo e seguro para as crianças”, ressalta Andrea Ramal.