Fonte: O GloboAutor: Luciano Ferreira

 

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve o menor número de inscritos desde 2010. A prova conta, em 2019, com um total de 5.095.308 inscrições confirmadas — número 7,5% menor que no ano passado e 41% do que em 2014, ano com maior adesão. A maior parte deles, quase 3 milhões (58,5%), são beneficiados pela isenção da taxa de inscrição.

Crise econômica

De acordo com Andrea Ramal, doutora em Educação, os números são resultados da combinação de uma série de fatores. A crise econômica que o país enfrenta, por exemplo, seria um dos responsáveis por afastar parte dos interessados, uma vez que, para além do valor a ser pago na inscrição e em outros gastos relacionados à preparação para a prova, o atual cenário desestimula os candidatos.

— As pessoas estão pensando duas vezes antes de entrarem nesse processo, porque sabem que terão de arcar com uma série de custos e acabam deixando para tentar no próximo ano. Esse movimento é prejudicial ao país, porque, se você compromete o acesso ao ensino superior, a formação de novos profissionais também fica comprometida — afirma.

Regras Fies

A instabilidade nos órgãos responsáveis pela área da educação — com as trocas na presidência no Inep e no Ministério da Educação , por exemplo — também afeta o número de inscritos, segundo Andrea. Além disso, as regras para acesso ao Financiamento Estudantil (Fies) também foram alteradas no ano passado, com a inclusão de bancos privados nos acordos e a extinção da carência (período entre o término do curso e o início do pagamento da dívida) para os que estiverem trabalhando.

Treineiros

Outro fator apontado por Andrea é a nova regra relativa aos chamados “treineiros” — alunos do 1° e 2° anos do ensino médio que fazem as provas para se acostumarem com o modelo de avaliação. Desde o ano passado, esses jovens só têm acesso ao resultado do exame após encerrarem os prazos para concorrer às vagas em universidades.

— Esses estudantes, via de regra, fazem a prova sem interesse, a princípio. Mas aqueles que conseguem bons resultados acabam recorrendo à Justiça para conseguirem o acesso às universidades, por isso a medida do Inep — afirma Andrea, completando que, em menor escala, a mudança nos critérios de isenção pode ter contribuído para os baixos números de inscrições neste ano.