Os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados em setembro, apontam que entre os maiores desafios da Educação Básica está a manutenção dos desempenhos observados nos Anos Iniciais (1º ao 5º ano) nos Anos Finais (6º ao 9º) do Ensino Fundamental, mas algumas escolas estaduais têm conseguido bons resultados, porque vêm apostando fortemente na leitura, algo apontado por especialistas como primordial na evolução dos índices de aprendizagem.
A distorção idade-série (proporção de alunos com atraso escolar de dois anos ou mais) salta de 12% nos Anos Iniciais para 26% nos Anos Finais no Brasil e de 12% para 31% no Rio Grande do Sul, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O aluno mais velho e fora do ciclo adequado se torna ainda mais insensível aos apelos de uma escola que já não conversa com ele e que tem de disputá-lo com o mercado de trabalho.
– Falta tempo na escola, tanto para o professor quanto para o aluno, para pensar no trabalho pedagógico. Isso poderia ocorrer, por exemplo, em uma reunião semanal, mas os professores muitas vezes dão aulas em três, quatro colégios diferentes. Então, a escola não consegue mobilizá-los para um alinhamento. Eles não se encontram – lamenta a consultora em educação Andrea Ramal.
Doutora em Educação pela PUC-Rio, Andrea também alerta para outro abismo entre a teoria e a prática. Ela lembra que a proposta da educação por ciclos, com competências definidas para cada ano escolar e sem o foco na reprovação punitiva, prevê que o aluno que apresentar dificuldades seja imediatamente contemplado com aulas de reforço, a tempo de alinhá-lo com o restante da turma.
Nesse sentido, as escolas de Vacaria e de São Marcos, no Rio Grande do Sul, são exceções: os gestores conseguem proporcionar essa ajuda aos alunos, com menor ou maior dificuldade, dependendo da disciplina. A realidade de tantas outras instituições da rede estadual é a falta de professores inclusive para fechar a carga horária regular – quanto mais para dar aulas de reforço a algum aluno. Trata-se de mais uma peculiaridade da dinâmica dos Anos Finais do Ensino Fundamental, no Rio Grande do Sul e no Brasil, que interfere diretamente nas ações de combate aos maus desempenhos, impedindo que se concretizem planos de melhora e, consequentemente, atinjam-se metas de qualidade.