Fonte: Correio Braziliense. 24 de janeiro 2021.

Andrea Ramal participou de uma live promovida pela Frente Parlamentar Mista da Educação sobre os dilemas enfrentados pelos estudantes que participaram do Enem.

Em uma análise sobre os dois dias de provas, a especialista destacou que a edição 2021 foi marcada pela injustiça. “A enorme desigualdade entre os alunos ficou ainda mais clara no ano letivo de 2020. Não se pode comparar as condições de uma parcela mínima de nossa sociedade, que conseguiu vencer os desafios impostos pela pandemia, com as da grande maioria, ou seja, de 40 milhões que estudam em escolas públicas. É importante lembrar que os alunos das escolas públicas têm em sala de aula um lugar privilegiado para estudar. Em casa, no entanto, não têm o espaço adequado”, explicou.
E para a educadora houve outro agravante para que todos ficassem mais tensos: a indefinição sobre a aplicação da prova. “Foi muito desespero e um enorme prejuízo emocional para os candidatos. Os jovens simplesmente não sabiam o que ia acontecer. Durante o ano passado eles não tiveram condições de estudar, autodisciplina ou as ferramentas adequadas para montar um plano de estudos. O aluno brasileiro não é autodidata e depende muito do professor”, destacou a especialista.
Andrea Ramal lembrou a consulta realizada pelo MEC no ano passado para a escolha de uma nova data para o Enem. “Me chamou a atenção o fato da data sugerida, no mês de maio, ter sido completamente desconsiderada, com a manutenção das provas em janeiro”, lembrou.

Destacando os 55% dos inscritos que não compareceram, Andrea Ramal lembra que o Enem é uma prova de resistência física e mental e que o número de casos de evasão escolar pode ser maior após a clara demonstração da falta de preparo do Ministério da Educação. “Foi um grande sofrimento ver os jovens se aglomerando nos locais de prova, com alguns precisando voltar para suas casas por conta da lotação das salas. É preciso lembrar que o sentimento de injustiça pode agravar os já preocupantes índices de evasão escolar entre os jovens de 15 a 17 anos. Isso realmente me preocupa muito”, explica a especialista.

Segundo Andrea, a dos recentes acontecimentos, um em cada cinco jovens pode acabar se tornando um “nem-nem”, aquele adulto que não trabalha e nem estuda.