Fonte: O GloboAutor: Árion Lucas

RIO – Na hora do recreio, 15 minutos são suficientes para que os meninos liberem toda a energia que seus corpos precisam gastar. Entre as meninas, no entanto, este é o tempo que se leva para se debater a brincadeira ideal, e por isso o intervalo é de meia hora. Esta é a rotina no Colégio Porto Real, na Barra, para as duas turmas do 1º ano do ensino fundamental. Meninos e meninas estudam e se divertem separadamente, de acordo com os preceitos do método conhecido como single sex. No Porto Real, a prática é adotada como parte da Educação Personalizada, desenvolvida pelo espanhol Victor García Hoz nos anos 1960, modelo pedagógico segundo o qual cada criança tem um ritmo de desenvolvimento que deve ser levado em consideração no ambiente acadêmico.

De acordo com Adrianna Abreu, diretora do ensino fundamental feminino e uma das fundadoras da escola, durante a educação infantil, há pouca distinção entre os sexos em termos de aprendizado. Todavia, em torno dos 6 anos, o cérebro de meninas e meninos começa a se distinguir do ponto de vista biológico, o que os leva a aprender de formas diferentes. Segundo o modelo de Hoz, estudando em turmas separadas, cada grupo alcança seu potencial máximo e tem melhor aproveitamento, pois a divisão evita a frustração que uma criança pode sentir caso se julgue inapta para aprender determinada matéria simplesmente por não estar preparada para isso ou não ter recebido o ensinamento de forma adequada para ela.

A filosofia abarca a escolha dos mestres. As aulas para a turma masculina são dadas por um homem, enquanto uma professora é responsável pela turma de garotas. Em ambas as salas, trabalha-se o mesmo material, porém com temas que se acredita serem mais agradáveis a cada universo.

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Entre os especialistas, a aposta no single sex não é uma unanimidade. Doutora em Educação, a pedagoga Andrea Ramal explica que, de fato, diversos estudos sobre ciência cognitiva sustentam que o desenvolvimento de meninos e meninas é diferente. Ela ressalta, no entanto, que separá-los na hora do aprendizado não é o único caminho:

Hoje, as escolas tentam fugir daquele padrão massificado, e a educação personalizada single sex é um dos modelos existentes, mas não é o único. É possível também que, dependendo da abordagem, turmas mistas tragam benefícios maiores do que as separadas, em termos de habilidades socioemocionais e respeito às diferenças.

Na opinião do pedagogo Bruno Malheiros, a separação também não é determinante para a conquista de melhores resultados. O professor da Uerj lembra que nos países mais avançados do mundo na área de educação não há separação entre os sexos:

— As melhores escolas da Polônia, da Coreia do Sul e da Finlândia, que sempre lideram o ranking internacional, não adotam uma educação personalizada single sex. É uma opção da escola e dos pais, que deve ser respeitada, mas não enxergo […]