Um de cada três professores da rede estadual de São Paulo diz já ter sido discriminado ou importunado por expor uma opinião ou ideia em sala, segundo pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva e o Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) divulgada nesta quarta (18). O número é um pouco maior entre os alunos: 38% afirmam ter sido constrangidos por expor ideias.
Por outro lado, 88% dos estudantes e 92% dos professores disseram concordar que deve ser possível conversar sobre todos os assuntos nas escolas.
O levantamento “Qualidade da educação e violência” ouviu 1.000 estudantes com 14 anos ou mais e 701 professores da rede estadual em 14 municípios, entre 5 de setembro e 1° de outubro. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais.
Segundo a pesquisa, cerca da metade dos professores (53%) e estudantes (49%) da rede estadual paulista tiveram conhecimento de ao menos um caso de agressão física na escola que frequentam no último ano.
A percepção de violência por professores e estudantes nas instituições do estado cresceu de 2014 para 2019: foi de 77% para 81% entre alunos e de 84% para 90% entre docentes.
Bullying, agressão verbal, agressão física e vandalismo foram os casos de violência mais citados pelos entrevistados. O mais citado pelos estudantes foi bullying (62%) e pelos docentes, agressão verbal (83%)
O número de pessoas que afirmou ter sido vítima de violência também cresceu em comparação com 2014 no estado. Foi de 28% para 37% entre alunos e de 44% para 54% entre professores.
Um dos casos mais marcantes deste ano ocorreu em maio em uma escola estadual em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Uma professora de português foi atacada por oito alunos, que arremessaram carteiras, cadeiras, livros e cadernos contra a docente. Os jovens foram apreendidos pela polícia. Foi neste ano também que oito pessoas morreram e 11 ficaram feridas após o ataque na escola Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo.
A violência contra docentes, especificamente, seria reflexo da desvalorização da carreira de professor, diz Andrea Ramal, consultora e doutora em educação pela PUC-Rio.
“Não tem a ver só com a situação econômica do magistério ou com políticas públicas, mas também com a maneira com a qual famílias encaram a profissão”, diz ela.
Sobre ataques contra opiniões expostas em sala, a consultora afirma que têm a ver com o momento de polarização no país. Projetos pedagógicos que incentivam discussões seriam uma solução para a questão, segundo ela.