Fonte: Estado de Minas | Autora: Junia Oliveira

 

No início, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) surgiu sem grandes pretensões. Passados 20 anos, consolidado como a maior e mais importante avaliação do país, mudou mais o objetivo que a prova em si. Enunciados longos permanecem, embora já tenham sido maiores. Assim, algumas das premissas da avaliação se consolidam a cada edição, especialmente a exigência de leitura e interpretação de texto, não só em linguagens, mas em todas as áreas. O teste, que antes era por disciplinas, transformou-se em áreas de conhecimento. A interdisciplinaridade foi trazida para a prova, cobrando do estudante a capacidade de relacionar vários conteúdos para solucionar problemas.

“O cerne do Enem, desde as primeiras provas, continua em termos de conteúdo e de problemas contextualizados na vida real, na sociedade”, afirma a educadora, consultora e Doutora em Educação pela PUC-Rio Andrea Ramal. Ela ressalta que todas as finalidades atuais da avaliação, desde que substituiu o vestibular e ganhou uma série de políticas sociais associadas, deu à prova um caráter decisivo. “Tudo isso depende do bom desempenho no exame. Antes, era apenas uma prova de conhecimento sem finalidade decisiva. Hoje, pode definir até carreiras – dependendo da pontuação, o aluno pode entrar no curso e na universidade que quer; outros, só para entrar na universidade, acabam mudando a escolha da profissão”, relata.

Ao mesmo tempo em que agrega possibilidades, o exame escancara, a cada edição, a desigualdade de ensino no país, na opinião da educadora. “Diante de um ensino médio deficitário, a desigualdade entre quem estuda numa escola boa e outro que não estuda aparece justamente no Enem. Mas não porque a prova seja desigual, e sim porque os estudantes já chegam desiguais”, afirma Andrea.