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Fonte: O GloboAutora: Andrea Ramal

 

Os grêmios estudantis andavam esquecidos, mas este ano ressurgiram com força. No Rio de Janeiro, funcionam em 957 das 1.222 escolas públicas estaduais. Em São Paulo, há mais de cinco mil escolas com grêmios. O fenômeno é observado em diversas regiões do país.

O movimento indica amadurecimento dos jovens, vontade crescente da participação cidadã, já percebida nas últimas eleições. O envolvimento político dos jovens não terminou nas urnas: se mantém ativo, por exemplo, nas manifestações contra o contingenciamento de verbas para a educação.

Outra razão está no estímulo dado pelos educadores. Aos poucos, as escolas têm se aberto à gestão participativa. Além de representar os interesses dos alunos, os grêmios são importantes para manter a comunicação entre famílias e escola. E podem ser aliados na promoção de ações e campanhas, como a redução do bullying ou o voluntariado.

Um terceiro fator explica o engajamento juvenil: a mudança nas formas de ensinar. As metodologias ativas, cada vez mais adotadas, investem no protagonismo do aluno, incentivam a participação em aula e contribuem para desenvolver competências de proatividade, capacidade de diálogo e inclusão.

O retorno dos grêmios indicaria a oficialização de uma “escola com partido”? Não necessariamente. Esses estilos de participação estudantil têm, na base, a promoção do pensamento crítico e a autonomia intelectual. Quanto mais grêmios e mais metodologias ativas de ensino, menos oportunidades de fazer a cabeça dos alunos e de constrangê-los por suas convicções; e mais chances de formar cidadãos que façam as próprias escolhas.

Que tal, então, entendermos assim: é uma escola sem partido, mas com política. Todo ato de educação é político — até quando se busca a neutralidade. A organização dos estudantes é um fenômeno que renova a escola e lança nova luz sobre as relações entre educação, sociedade e política.

* Andrea Ramal é consultora em educação