Brasil é promovido ao Grupo 5, que reúne a elite da Matemática

*Andrea Ramal

O Brasil acaba de ser promovido para o Grupo 5, a elite da Matemática mundial, que reúne as nações mais desenvolvidas na pesquisa da área, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Isso deveria ser motivo de orgulho, não fosse pelo fato de o país ter também um dos piores índices de aprendizagem nesta área. No último Pisa, exame internacional aplicado a jovens em torno dos 15 anos, o Brasil ficou no 66º lugar no ranking de proficiência em Matemática, entre 70 participantes — atrás de Qatar, Indonésia e seus vizinhos da América Latina.

Nesta prova, 70% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível básico, sem conseguir resolver problemas numéricos simples. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera essas habilidades um pré-requisito mínimo para exercer a cidadania. No Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o ensino médio brasileiro nunca atingiu a nota 4 sobre 10. Apenas 7% dos alunos atingem o aprendizado adequado em Matemática; nas escolas públicas, o índice é de 3,6%.

As deficiências de base se tornam gritantes no ensino superior. Na graduação de Engenharia, só metade dos estudantes matriculados consegue se formar. Este quadro tem consequências graves na falta de qualificação e baixa produtividade dos profissionais e, claro, na perda de competitividade do país.

Até o momento, não há sinais de melhora na educação matemática. Mas a virada seria possível, como já mostraram diversos países que reestruturaram o sistema educacional e hoje alcançam as melhores notas. Para isso, há três desafios fundamentais.

O primeiro deles é a revisão do currículo, retirando a ênfase excessiva no ensino da Álgebra, que exige níveis cognitivos e capacidade de abstração muitas vezes acima das faculdades de crianças e adolescentes em idade escolar. Muitos alunos temem a Matemática porque não entendem as aulas. Há que trabalhar com desafios que tenham mais relação com o dia a dia do estudante e façam sentido na prática, estimulando o raciocínio lógico e o gosto por resolver problemas. Se eles curtem games, é claro que podem se apaixonar pela Matemática.

Além disso, é preciso empreender uma verdadeira cruzada para superar o analfabetismo funcional. Reforçar, desde os primeiros anos escolares, a leitura e interpretação de textos, imprescindível para resolver exercícios e entender enunciados.

Por fim, há que qualificar os docentes. Um a cada três professores de Matemática não tem formação na área. Atualmente, há novas formas de ensinar, que são mais motivadoras para o aluno e melhoram o aprendizado. O Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e a SBM (Sociedade Brasileira de Matemática) vêm dando uma excelente contribuição para repensar o ensino desta disciplina, por exemplo, com a Olimpíada Brasileira de Matemática. É necessário ampliar o diálogo entre esses estudiosos e os professores das escolas, muitas vezes isolados e esquecidos, sem apoio nenhum para inovar.

*Andrea Ramal é doutora em Educação pela PUC-Rio. Artigo publicado no jornal O Globo