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Fonte: Estado de MinasAutora: Lilian Monteiro

 

Qual o número do celular do seu filho? Nossa, não sei! Tá gravado no smartphone. E o endereço do tio, sabe como chegar? Não, mas é só colocar no Waze. Quanto é 39 + 57? Soma aí na calculadora do telefone. Você leu a reportagem sobre a reforma da Previdência? Só partes, muito grande, não tive paciência e estou sem tempo. Lembra com detalhes da sua última viagem? Nem tanto, mas as fotos estão todas lá, no Instagram. Viu a mensagem no WhatsApp? Visualizei, enorme! Desisti na metade. Você se reconhece em alguma dessas situações? É do tipo que a maioria das respostas e informações está, obrigatoriamente, atreladas às mídias eletrônicas? Se a resposta for sim, então é melhor repensar seus hábitos.

 

Três perguntas para… Andrea Ramal, educadora, doutora em educação e autora do livro Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem

 

Excesso de estimulação e exposição simultânea a múltiplas mídias afetam a memória? 

 

No que se refere à educação, posso dizer que afeta ao menos a forma de estudar: decorar menos, cada vez menos, pois o conhecimento está ao alcance com um clique. E é possível que interfira, pelo menos no que se refere às intenções. Ninguém quer perder tempo decorando coisas. Isso é interessante porque reservamos a energia de nossa atenção e foco para o que realmente é necessário.

 

O fato de toda informação estar a um clique interfere no processo de aprendizagem? 

 

Sim, pois o acesso ao conhecimento é mais rápido, e a diversidade de fontes é muito maior. Por outro lado, nem todas as fontes são seguras e confiáveis, ao contrário do que era a Barsa (enciclopédia). Então, o aprendizado precisa se focar em saber interpretar, avaliar informações, selecionar o que é válido, comparar visões… Em vez de simplesmente consultar e copiar. O uso excessivo de tecnologia provoca alguns prejuízos. Um deles é a perda de foco com relação às atividades do dia a dia, outro é o isolamento social. E há também o impacto no desenvolvimento de alguns aspectos da cognição (memorização) e na capacidade de memorizar. No entanto, o problema não é a tecnologia, mas sim a maneira como se usa.

 

Como usar as múltiplas mídias como ferramentas de aprendizagem?

 

Essa é a proposta das metodologias ativas de ensino. Graças às tecnologias digitais, está ocorrendo uma revolução nas relações da sala de aula: entre alunos e professores, entre estudantes e conhecimentos. Hoje, o estudante pode ser mais proativo e buscar o conhecimento por si mesmo, enquanto o professor pode assumir um novo papel, de orientador da aprendizagem. Não há dúvida de que mesclar o estudo por livros impressos com objetos digitais, conforme os percursos e ritmos de aprendizagem de seus alunos, é o caminho mais indicado para que escolas e universidades brasileiras melhorem o padrão de desempenho dos estudantes. Isso implica reestruturar os planos de ensino, associando de forma lógica as aulas presenciais e as atividades a distância. Mas, para dar certo, em cada área do conhecimento, há que garantir conteúdo de qualidade também nos aplicativos eletrônicos. É preciso ter cuidado com certas adaptações, improvisos e produções caseiras sem grande valor didático. Um ou outro aplicativo popular e divertido sempre pode motivar os alunos. No entanto, é mais provável que os melhores resultados de aprendizagem sejam os que derivem de conhecimento impresso e digital consistente, oriundo de autores e editoras de referência na área técnica, científica e acadêmica, estudado com a orientação de professores bem preparados. É isso que, para além de divertir e motivar, desenvolve competências para o trabalho e para a vida.