Marizete Farias estuda para prova do Encceja. Foto: Gabriela Fittipaldi / Agência O Globo

Fonte: O GloboAutoras: Constança Tatsch e Rafaela D’Elia

 

RIO — Marcada para este domingo, a prova do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) teve número recorde de inscritos, 2,9 milhões de pessoas, contra 1,7 milhão do ano passado, um aumento de 67%. O exame, gratuito, serve como validação dos ensinos fundamental ou médio para quem não teve oportunidade de concluir os estudos na idade apropriada.

Para especialistas, uma das principais razões para o aumento da procura está no fato de o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que oferecia a certificação do ensino médio desde 2009, ter, em 2017, devolvido essa função para o Encceja: a imensa maioria dos candidatos (2,3 milhões) busca o diploma dessa etapa da educação básica. Apesar de a mudança ter acontecido já há algumas edições, a informação teria chegado aos interessados gradativamente.

Desemprego aumenta a procura

Escritora e consultora em educação, Andrea Ramal também considera o número recorde um retrato do que acontece na educação brasileira: um alto acesso nos primeiros anos, com quase 100% das crianças entre sete e oito anos na escola, e queda ao longo dos anos.

— Nosso sistema educacional não consegue reter as pessoas na escola. O índice de evasão escolar é altíssimo. Elas têm necessidade de sair para trabalhar, se desestimulam com a repetência, cansam da escola que não se renova e, no caso das meninas, existe a gravidez precoce — explica.

Aprovação maior

Andrea vê ainda outros fatores que podem explicar os quase 3 milhões de inscritos.

— O nível de aprovação (do Encceja) é maior. No Enem, era de apenas 14% e, com o Encceja, uma prova mais apropriada, o índice passa de 30%, dando um entusiasmo maior. Outro aspecto é o desemprego. Ter um diploma de ensino médio pesa muito no momento de uma seleção.

Preparação necessária

Para a educadora Andrea Ramal, é preciso ter um preparo mínimo antes de fazer a inscrição e tentar o Encceja.

— O processo de inscrição envolve competências tão básicas que acaba funcionando como mais um processo seletivo. Uma pessoa que quer um diploma fundamental deveria saber preencher um formulário. Se facilitar demais, provavelmente essa pessoa não vai passar. Ela tem que ser apta a entrar no site da Caixa para ver seu INSS, calcular o tempo que falta para sua aposentadoria, fazer a prova do Detran, compreender o destino final do ônibus. É uma forma de exigir competências de um cidadão civilizado no mundo de hoje. O que a gente precisa questionar é o que aconteceu com essa pessoa antes para agora não conseguir preencher um formulário.

Apesar de o Inep oferecer material didático de graça no site, ela frisa que, como os candidatos têm nível baixo de escolaridade, dificilmente são autodidatas. Por isso, recomenda que se matriculem no EJA (Educação Jovens e Adultos, uma modalidade de ensino da Educação Básica destinada às pessoas que não tiveram acesso à escola na idade convencional) para conseguir estudar e garantir os conhecimentos mínimos necessários para o exame.