Fonte: CBN

 

No ‘Escola da Vida’ do dia 7 de março, a educadora Andrea Ramal comentou sobre o enredo “História pra ninar gente grande” da Estação Primeira de Mangueira, que foi a grande vencedora do Carnaval 2019. A escola de samba deu uma aula de história na Sapucaí. Mas foi uma história alternativa, com destaque para heróis da resistência negros e índios em vez dos personagens tradicionais das páginas de livros escolares.

Andrea Ramal analisa que a crítica que Mangueira fez é legitima. “O ensino de História ainda está muito marcado pela visão europeia, como se tudo que vem da Europa fosse mais importante. Nos livros de História usados nas escolas brasileiras, os colonizadores são caracterizados como personagens corajosos, que atravessam os oceanos e dominam outras culturas. Enquanto isso, a dominação dos outros povos, denominados, muitas vezes, como primitivos, é apresentada com naturalidade, como se negros e índios tivessem aceitado esse destino de se submeter aos europeus”, explica a educadora.

Ensino de História hoje

“A boa noticia é que o ensino de disciplina começou a mudar, após críticas como essas que aparecem no desfile da Mangueira. Hoje, a proposta é que a História passe a ser contada pela ótica do povo, muito mais do que pela conquista de governantes e dos poderosos. O objetivo é que os estudantes aprendam a interpretar os fatos, questionem as supostas verdades sobre o presente e o passado e compreendam todas essas relações entre os fatos e as suas consequências”, comenta a consultora em Educação.

Importância da Lei 10.639/03

“A Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação, é importantíssima. É complicado para as crianças brasileiras sentir orgulho de suas origens e identidade com aquela forma de descrever os seus antepassados. Essa lei pede justamente isso: trazer os heróis esquecidos para o centro da narrativa histórica, exatamente como o enredo da Mangueira fez. Além disso, a lei propõe que as crianças vejam a História de uma maneira mais realista, a partir das lutas de libertação que os negros enfrentam até os dias de hoje. É importante, ainda, desconstruir os mitos de inferioridade e superioridade entre culturas e trazer a riqueza da miscigenação, que é uma das maiores riquezas do Brasil. Na prática, as escolas ainda estão engatinhando nesse sentido. Poucas vezes, esses temas são tratados. Às vezes, é só no Dia da Consciência Negra ou em outro projeto específico. Ainda falta mudar o currículo e trazer isso para o dia a dia o ano inteiro”, ressalta Andrea.

Como mudar essa realidade?

“Os responsáveis devem levar os filhos para visitar museus, assistir filmes que tratam de diversas culturas e comentar isso com os filhos, além de ler e discutir as notícias do dia. Outra questão muito importante, que está na base de todo o ensino de História, é não estimular a decorar, e sim a entender os fatos. Nada de ficar decorando nome de herói ou data! É preciso ensinar a pensar! Quando o aluno aprende a criticar a história, a ler com pensamento crítico, o estudante passa a não ser mais o coadjuvante, e sim um protagonista também da História”, sugere a educadora.