Imagem ilustrativa. Foto: Unsplash

Fonte: Gazeta do Povo Autor: Tiago Cordeiro

O mundo dos adultos é competitivo. Todos são avaliados e comparados, o tempo inteiro, a respeito de suas aptidões e seu desempenho. Será que a escola precisa ser assim? A meritocracia ajuda a formar adultos mais preparados para as demandas futuras? Ou medir estudantes e estimular a competitividade apenas reforça desigualdades sociais, na medida em que favorece os que já são mais favorecidos? Aliás, o que é exatamente meritocracia?

Prêmios para os melhores

Para a educadora e consultora em educação Andrea Ramal, a estratégia tem vantagens evidentes. “A meritocracia dentro da sala de aula pode estimular os alunos a melhorar seu desempenho. Estimula a atitude de superação, torna o processo de aprendizagem mais desafiador (como num game, em que os jogadores desejam atingir níveis mais valorizados) e forma para o mundo do trabalho, que também (em geral) é meritocrático”.

Andrea Ramal lembra que valorizar os melhores pode apresentar algumas desvantagens. “Se a escola ou a família não souberem trabalhar esse método de forma positiva, pode funcionar ao avesso. Se a família cobrar demais um estudante que nunca é premiado, mesmo se esforçando, ou a escola menosprezar esses alunos com baixo desempenho, em vez de apoiá-los e ajudá-los a alcançar um desempenho melhor, pode ocasionar frustração, desânimo, desmotivação para o estudo e desinteresse por outras competições”.

Bônus para professores

E entre os professores e funcionários das escolas, que já são adultos, a meritocracia é uma estratégia válida? “Existe o lado positivo, que seria possibilitar reter os bons professores na escola e na profissão”, diz Andrea Ramal. “Hoje, temos muitos docentes abandonando a área, pela baixa remuneração e condições de trabalho ruins. Se os melhores fossem premiados, seria uma forma de mantê-los e não perder talentos”.

Condições difíceis

Para Andrea Ramal, a desvantagem da meritocracia entre professores traz um prejuízo. “Os processos baseados na meritocracia, na maioria das vezes, desconsideram as desigualdades”, aponta a professora. “Formalmente somos todos iguais, perante a lei, mas na prática, não é bem assim, nem todos deram a sorte de nascer em contextos favorecidos. Então guiar-se exclusivamente pelo mérito pode acabar sendo altamente injusto. A meritocracia pode acabar funcionando como desmotivadora quando professores percebem que, no final, os primeiros lugares, os premiados, são quase sempre os mesmos, a não ser que haja, ao mesmo tempo, condições oferecidas para que todos possam ficar de fato em condições de igualdade”.