Fonte: G1Autora: Andrea Ramal

Era uma vez um homem, conhecido por ser bom e honesto, que encontrou um anel mágico. Sempre que usava o anel, ficava invisível. Surgiu a tentação: agora, se quisesse, poderia fazer coisas erradas, porque não seria descoberto nem punido. O homem cedeu à tentação e passou a agir sem escrúpulos, transgredindo todas as normas, em benefício próprio, sem se importar com o que causasse aos outros.

Esse é um resumo da lenda do pastor Giges, contada por Platão em “A República”. O filósofo problematiza se os indivíduos são bons ou justos por uma escolha natural, ou só porque há leis e vigias. A questão é: se não houvesse guardas, nem câmeras, e não pudéssemos ser vistos nem julgados pelos demais, o que cada um faria?

A lenda de Giges ajuda a refletir sobre certos fenômenos observados nas redes sociais. Sob a máscara de identidades virtuais verdadeiras ou falsas, e agindo detrás de monitores, muitos usuários têm a sensação de vestir o anel da invisibilidade, agindo sem qualquer limite: incitam a violência, publicam ofensas, externam todo tipo de preconceito. Por não ter, ainda, formas estruturadas de vigilância, controle ou punição, a internet se converte muitas vezes num território de maldades. […]